“Creu, creu, creu... creu, creu, creu...”.
Este é um dos mais novos SUCESSOS da música popular brasileira, que uma noite dessas ocupou horas do horário nobre de um determinado programa de televisão. Ao chegar em casa vejo membros da família, sentados prestigiando o tal do Creu. Do autor nunca ouvi falar, mas pela letra da música deve ser um poeta que juntamente com suas dançarinas que vestidas, ou melhor, despidas de micro-shorts e mini-blusas compõe, algo que os do ramo chamam de funk.
“Velocidade três: creu, creu, creu...
Agora na velocidade quatro: creu, creu, creu...
Eu confesso pra vocês que eu não consigo, mas vamos lá, velocidade cinco:
Creu, creu, creu, creu, creu...”.
E elas lá, com suas bundas e pernas a mostra para a televisa, vendendo o que para elas devia ser algo precioso, e talvez até seja, tão precioso que elas ganham dinheiro em cima disso, enquanto a apresentadora do programa vai ao delírio com a audiência nunca antes alcançada. Ali estou eu, impotente diante da máquina exploradora de baixarias que se chama televisão. Vejo minha prima de três aninhos dançar aquele projeto de música, enquanto os que estão a sua volta acham lindo tudo aquilo. Levo em consideração a sua idade e, por sorte, ela na sua ingenuidade não sabe ao certo que está dançando uma música chula de letra paupérrima fazendo apelações ao sexo e se deixar levar pela burrice dos pais. Nesse momento, vejo se confirmar dentro da minha própria casa que existe sim um processo de mediocrizar nosso Brasil.
Sabe do que lembro nesse momento? Dos milhares de profissionais que fazem música de verdade e que estão sendo deixados de lado. Vale o que os profissionais, se é que posso assim dizer, da mídia decidem. E eles sempre decidem pelo creu, pela Égüinha Pocotó, pelo Bonde do Tigrão ou até mesmo pela boquinha da garrafa. Onde estão Caetano Veloso, Roberto Carlos, Marisa Monte e Maria Rita nesse momento? Se surgisse hoje, um Djavan com seus vinte e poucos anos, não chegaria nem as rádios alternativas, porque alguém, no ápice da sua ignorância, está decidindo o que o brasileiro vai ver e ouvir algo que resulta na desmoralização do que hoje podemos chamar de música popular brasileira. A popularização do lixo, a vulgarização do corpo feminino, a lavagem cerebral nos adolescentes.
Imagino que música estará sendo feita daqui a vinte anos pela garotada de hoje que está sendo alimentada pelo Creu. Sinto-me ofendida e não me consolo em pedir para desligarem a televisão ou me retirar da sala, pois sei que milhões de brasileiros estão naquele momento assistindo o creu na velocidade um, dois, três, quatro e cinco sem perceber que a televisão está os chamando de burros.
Por Aiana Jéssica, 3º ano.